domingo, 23 de junho de 2013

Simulação de evacuação

Simulação de evacuação em boate pode ajudar a aprimorar legislação contra incêndio

Além do treinamento da equipe de brigadistas, gerar conhecimento para a área era um dos principais objetivos


Eram 2h de domingo quando a música parou de tocar nas três pistas da boate Santa Mônica, em Porto Alegre. A sirene soou, as luzes de emergência se acenderam e os baladeiros foram se dirigindo até a saída mais próxima.
Foram exatos três minutos e 26 segundos até que o último dos cerca de 500 frequentadores deixasse o prédio. Um aplauso geral tomou conta da área externa da casa noturna para coroar o sucesso da simulação de evacuação.
— Se fosse uma situação real, estariam todos salvos! — comemorou o dono da boate, Edson Dutra, antes de anunciar que dali em diante a festa continuaria com bebida liberada.
Era uma forma de agradecer a todos os que concordaram em participar do teste, mediante um termo de ciência assinado na entrada.
— Valeu como experiência pessoal para saber como agir numa situação dessas. Tinha alta galera para orientar a saída, acho que se fosse um caso real isso ajudaria bastante — destacou o estudante de Direito Vinícius Batistel, 19 anos.
A "alta galera" a que se referia Batistel era a equipe de 15 brigadistas de incêndio da casa, que vinham sendo treinados há dois meses para, entre outros procedimentos de segurança, saber orientar uma evacuação em caso de emergência.
— Esse exercício é um grande passo para responsabilizar os proprietários desses estabelecimentos a garantirem a segurança dos usuários, além de integrar todos os órgãos que devem preservar a integridade das pessoas em caso de sinistro — avaliou o capitão Eduardo Estevam Rodrigues, subchefe da Seção de Prevenção de Incêndio.
O secretário municipal de Indústria e Comércio da Capital, Humberto Goulart, que também acompanhou os trabalhos na madrugada, reconhece não ter notícia de articulação semelhante, pelo menos não com tanta tecnologia agregada.
— É um momento riquíssimo, pois permitirá coletar informações quase que de uma situação real, podendo até colaborar para o estudo da prevenção em outras casas noturnas — comentou o secretário.
Um dos elementos tecnológicos que chamou a atenção de Goulart na hora do teste foi a contagem de pessoas por meio de sistema de câmeras com infravermelho, o que permite monitorar com precisão a densidade de ocupação de cada ambiente da boate.
Previamente, a evacuação da Santa Mônica já havia sido simulada no software desenvolvido pela pesquisadora Soraia Musse, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Em ambiente virtual, a evacuação foi ensaiada com lotação máxima: exatas 1.010 pessoas. O tempo foi de três minutos e 35 segundos, pouco mais do que o teste real, com metade do público.
— Além do fato de que, com menos gente, a velocidade de deslocamento é menor, o programa não considera o mobiliário e no real as pessoas não se colocam voluntariamente em situação de emergência — explicou a professora.
Somar conhecimentos, usando a tecnologia disponível e a experiência prática era o grande objetivo de toda a mobilização na balada. O arquiteto e engenheiro de segurança Paulo Dalle, autor do projeto de evacuação da Santa Mônica, deve fechar um relatório nos próximos 15 dias apontando êxitos, falhas e sugestões.
— Esse resultado poderá gerar subsídios de formação, por meio da publicação de artigos em revistas especializadas em engenharia de segurança, e até para aperfeiçoar a legislação — projeta.
Das observações trocadas entre pesquisadores, engenheiros e bombeiros ao fim do teste, uma constatação preliminar deve ser aprofundada: não há um tempo máximo de evacuação previsto para boates, como há para estádios de futebol no padrão Fifa, por exemplo. Com simulações virtuais e mais exercícios de abandono como o realizado na madrugada de domingo, poderia se chegar a esse tempo e aprimorar as exigências da lei para garantir mais segurança a quem sai para se divertir.

Fonte: ZH 23/06/2013

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